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SP

NEGRA

PROJETO

Apresentação

          O projeto foi realizado no segundo semestre de 2017 pelos estudantes da disciplina "Laboratório de Ensino e Pesquisa em História III", do curso de História da Universidade Federal de São Paulo, sob orientação do professor Jaime Rodrigues. Tendo como base o tema "São Paulo, vestígios da cidade negra", o projeto compôs um roteiro de visitação a pontos que remetam à escravidão e presença da população negra na cidade de São Paulo.   
          Muitas ruas e locais da cidade têm uma carga histórica relacionada aos africanos e seus descendentes. Essa parte da história de São Paulo muitas vezes é esquecida e negligenciada pelos órgãos públicos e pelos habitantes. Este projeto aprofunda a reflexão e pretende valorizar esses espaços.

          O desenvolvimento do projeto contou com grupos de pesquisa, redação, narração, produção geral e monitoria da visita, todos compostos por alunos do curso. A visita, do Largo do Paissandu à Praça da Liberdade, pode ser realizada em aproximadamente 2h.

O folheto  traz informações introdutórias e um QRcode que, lido por celulares ou tablets, direciona o interessado para este site. O site conta com mapa do trajeto no Google Maps e para imprimir, roteiro proposto com informações sobre os pontos e áudios narrando a visita.

 

Boa visita!

ROTEIRO

ROTEIRO

MONUMENTO À MÃE PRETA

    O Monumento à Mãe Preta representa todas as mulheres negras que durante o período da escravidão e depois dele, atuaram como amas de leite e cuidadoras dos filhos brancos dos seus senhores e patrões. A existência do monumento se deve às organizações negras paulistas, que na década de 1950, reivindicavam um espaço de memória negra na cidade de São Paulo.
    Desde o começo do século XX, os movimentos negros discutiam sobre a representação do negro na memória paulista como sujeito participante no desenvolvimento da cidade. A escolha da Mãe Preta enquanto símbolo, significava a colocação da população negra nessa memória. E além disso, exaltava a figura feminina de milhares de mães negras.
    O monumento, de autoria do escultor Júlio Guerra, foi construído como parte das comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo, em 1954. Ele foi colocado ao lado de outro grande símbolo da memória negra na cidade, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu, onde permanece até hoje.
    O dia da Mãe Preta era comemorado em 28 de setembro, dia da assinatura da Lei do Ventre Livre, em 1871. Após a construção do monumento, passou a ser celebrado também em 13 de maio, data da promulgação da lei que aboliu a escravidão no Brasil, em 1888. Em torno do monumento são feitas as celebrações do dia da Mãe Preta e do dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, além de ser um espaço onde são colocadas flores e velas durante todo o ano.

LARGO DO PAISSANDU 

    A região hoje conhecida como Largo do Paissandu era um local de nascentes e lagoas. A principal delas era chamada de Tanque do Zunega, nome pelo qual tambémera conhecida a região, até lhe atribuírem o nome de Praça das Alagoas.
    Durante todo o período escravista, o local se configurava como um espaço de sociabilidade negra. As populações escravizadas e livres frequentavam o local para a realização de serviços, como a lavagem de roupas e a obtenção de água para o abastecimento das casas dos senhores.
    No século XIX, a região foi drenada e aplainada. O nome definitivo de Largo do Paissandu foi atribuído em 1865. Ele faz referência à batalha que ocorreu na cidade de Paysandú no Uruguai, em um episódio que antecedeu a Guerra do Paraguai.
    O Largo do Paissandu passou a abrigar a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no ano de 1906. Posteriormente, em 1955, ali foi implantando o Monumento à Mãe Preta. Ambos são símbolos da presença negra na cidade de São Paulo. Atualmente a região é local de celebrações e iniciativas da população negra na
cidade.

PARQUE DO ANHANGABAÚ (BAIXADA DO AÇÚ)

   A Baixada do Açú correspondia a atual região do Parque do Anhangabaú. O nome Açú fazia referência ao Ribeirão Açú, que desembocava no Rio Anhangabaú. Nessa região, existia uma ponte conhecida como Ponte do Açu, no local da atual Avenida São João.

    A encosta da Baixada do Açu era um local ocupado por matas, e durante os séculos XVIII e XIX se configurava como um esconderijo para escravos fugidos. Além disso, a região era uma rota em direção ao quilombo localizado no Ribeirão Saracura, outro rio que desaguava no Anhangabaú. 
    No século XIX, também existia na região um comércio realizado pela população escrava e forra. No local, conhecido como Mercado de São João, eram comercializadas verduras, frutas e hortaliças, além de ervas de origem africana utilizadas em práticas religiosas.

      Em 1906, o Rio Anhangabaú foi canalizado, e em seu lugar foi construído um parque em estilo europeu. Em 1940, o parque cedeu lugar a avenidas. Em 1980, foi iniciado um novo projeto de renovação da área, finalizado em 1991, tendo como resultado o atual Parque do Anhangabaú.

PRAÇA ANTÔNIO PRADO

    No Largo do Rosário, atual Praça Antônio Prado, os negros realizavam serviços menos controlados e regulados pelo governo, como por exemplo os de lavadeiros, quitandeiros e carregadores. A região também abrigava a Igreja e a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
    A região começou a ser desapropriada em 1872, devido ao processo de modernização e urbanização na cidade. A partir de 1899, sob a gestão de Antônio Prado, a prefeitura executou diversas obras: o alargamento de ruas, a construção de praças e parques e a concentração da passagem das linhas de bondes, por exemplo. Como parte desse processo, a população negra foi gradativamente expulsa. Em 1903, apesar da resistência da irmandade, a igreja foi transferida para o outro lado da Várzea do Anhangabaú, onde hoje se situa o Largo do Paissandu. Posteriormente, o Largo do Rosário passou a se chamar Praça Antônio Prado.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

    A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é a mais antiga congregação negra de São Paulo. Ela foi construída por volta de 1715, através do trabalho dos devotos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, na região do antigo Largo do Rosário, onde hoje localiza-se a Praça Antônio Prado.

    A antiga Rua do Rosário, atual Rua 15 de Novembro, terminava defronte à referida igreja. Essa região era um dos principais locais de comércio e moradia da cidade. A partir de 1874, a Rua do Rosário passou a ser importante para o setor financeiro de São Paulo, mudando de nome em 1889 para Rua 15 de Novembro, em homenagem à proclamação da República.
    A construção da igreja tinha como objetivo abrigar a Irmandade, servindo como ponto deencontro e socialização para a população negra escravizada e livre, já que suas presenças não eram permitidas em outras igrejas. Apesar de se organizarem e cultuarem a padroeira católica que dá nome à igreja e à irmandade, os devotos de Nossa Senhora do Rosário também mantinham suas tradições religiosas de matriz africana nos arredores da Igreja.
    No fim do século XIX, a igreja e seus ocupantes foram categorizados como um problema. A elite paulistana colocava em prática um projeto de reforma urbana da cidade. Esse projeto defendia a transformação de áreas do centro que até então eram ocupadas pelas populações negras, sendo o Largo do Rosário uma delas. Mesmo com uma longa resistência da Irmandade, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e outros imóveis foram demolidos em 1903. A igreja foi reconstruída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em 1906, no Largo do Paissandu. Muitos moradores da região, que concordavam com a reforma urbana, protestaram contra a reconstrução da igreja naquele local.
    Em 1940, a permanência da igreja no Largo do Paissandu voltaria a ser discutida. O então prefeito Francisco Prestes Maia sugeriu a demolição do templo para a construção de um monumento ao Duque de Caxias. Graças às lutas dos irmãos do Rosário dos Homens Pretos, essa proposta não se concretizou. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário se mantém até hoje no Largo do Paissandu, como um símbolo da presença e resistência negra na cidade de São Paulo.

LARGO DA SÉ (PRAÇA DA SÉ)

    Originalmente conhecida como Pátio da Sé, a região foi ocupada pelos jesuítas, com a construção da igreja matriz em 1555, na antiga Rua da Esperança, além de outras edificações ao seu redor. Em meados do século XVIII, a igreja matriz foi reconstruída em um terreno escolhido pelo cacique Tibiriçá, passando à categoria de catedral. No ano de 1911 essa catedral foi demolida, e a que existe atualmente foi inaugurada em 1954, ainda incompleta, em meio às comemorações do
quarto centenário da fundação de São Paulo.
    O projeto de reconstrução da catedral acompanhou uma série de mudanças no espaço urbano da cidade que vinham desde a segunda metade século XIX. Esse processo expulsou a população que ali vivia e praticava atividades comerciais e culturais, como o samba e a tiririca, uma espécie de capoeira paulistana. Os negros que ocupavam a região foram os principais alvos da reconfiguração do espaço da cidade, tendo suas moradias e comércios deslocados para áreas mais distantes do
centro de São Paulo.

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA BOA MORTE (RUA DO CARMO)

    Formada em 1728, a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, composta por escravos e livres, tinha como característica fundamental receber brancos e negros sem distinção. A Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte começou a ser construída em 1802, sendo inaugurada em 1810 na Rua do Carmo. Sediou outras irmandades, a exemplo dos sacerdotes agostinianos e, antes da transferência para nova catedral, o curato da Sé.
    Ao longo do século XIX, acredita-se que a igreja tenha sido parada obrigatória de escravos condenados à forca. A execução costumava ocorrer próximo de onde hoje é a Praça da Liberdade e, de acordo com a tradição religiosa, era recomendável pedir uma "boa morte" a Nossa Senhora. Ficou conhecida também como a “igreja das boas notícias”, pois da sua torre era possível ver todos aqueles que vinham do litoral em direção à cidade, anunciando-os ao soar dos sinos.

RUA ONZE DE AGOSTO (BECO DAS MINAS)

        A partir de 1907, a antiga Rua do Quartel mudou de nome para Rua Onze de Agosto. O trecho entre a atual Rua Venceslau Brás e a Avenida Rangel Pestana era conhecido como Beco das Minas. A Rua Onze de Agosto faz a ligação entre as praças da Sé e João Mendes. Seu nome se devia á grande concentração de vendedoras da Costa da Mina no local. Lá viviam caipiras e mulheres africanas que vendiam verduras, frutas, doces e outros tipos de alimentos como forma de obter renda.
        Alguns escravos que viviam na cidade de São Paulo eram chamados de “escravos de ganho”. Tinham contratos verbais com seus senhores e trabalhavam sem supervisão constante. As mulheres escravas também faziam esse tipo de acordo. Algumas moravam sozinhas em quartos alugados, porém deviam às senhoras uma quantia a ser paga por semana. As inquilinas viviam nas ruas secundárias ao Centro, em cortiços e travessas como a da Conceição, Beco do Inferno, da Cachaça, das Minas, e em geral no norte da Sé. A região era marcada não só pelo comércio, mas também pelo grande número de residências populares.

CADEIA PÚBLICA E CÂMARA MUNICIPAL (PRAÇA JOÃO MENDES)

        A Câmara e Cadeia de São Paulo funcionaram conjuntamente em um edifício de taipa de pilão e telhado de sapê, construído em 1576. Não se sabe a localização precisa deste edifício, mas registros indicam que ficava em frente à igreja do Colégio dos Jesuítas. Devido à precariedade do local, em pouco tempo a Câmara e a Cadeia foram realocadas em um novo endereço, que precisou ser alterado diversas vezes, sempre em busca de um edifício com melhor infraestrutura.
        Em 1770, a Câmara e a Cadeia municipais passaram a funcionar em dois casarões alugados na Rua do Carmo. Inicialmente, a Câmara funcionava no andar superior e a Cadeia nos porões, mas esta última foi transferida, pouco tempo depois, para um sobrado alugado na mesma rua. A Cadeia funcionou nesse endereço até 1787, quando foi transferida para o Largo Municipal, atual Praça João Mendes. Na Cadeia, entre outros, eram aprisionados os negros fugitivos, enquanto que o pelourinho, símbolo do poder dos reis de Portugal nos municípios, era utilizado para açoitar escravos publicamente.

IGREJA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS (PRAÇA JOÃO MENDES)

        Até o século XIX, havia em São Paulo cerca de dezenove igrejas, todas muito próximas umas das outras, de modo que, no centro da cidade, 7 igrejas eram encontradas em uma distância de 3 quadras, algumas vizinhas, como a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios e a Igreja de São Gonçalo.

         Se comparada às igrejas da Bahia, Rio de Janeiro ou Minas Gerais, as de São Paulo, e especificamente a de N. S. dos Remédios tinha poucos ornamentos e não possuía perfeição de linhas ou porte monumental. Não foi construída pensando em sua beleza ou durabilidade. 

     A Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios era um lugar de resistência negra. Fundada em 1836, teve papel fundamental na luta pela abolição da escravidão em São Paulo. A partir de 1882, a igreja serviu como base de operações de Antonio Bento, líder do movimento abolicionista na cidade. Ele, junto de seus seguidores, organizou redes de caifazes, ou seja, agentes que circulavam para transmitir as novidades do movimento e da abolição no resto do Brasil, como forma de incentivar a fuga dos escravos.

          A Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, reduto do abolicionismo paulista, foi demolida em 1942, apesar de diversos protestos da população. Para dar continuidade a sua tradição, foi construído um novo templo no Cambuci, para onde a irmandade também foi transferida.

CAMPO DA FORCA E SANTA CRUZ DOS ENFORCADOS (LIBERDADE)

      No período colonial, o atual bairro da Liberdade era conhecido como Distrito da Glória, uma região desvalorizada e de forte presença de populações negras. Na atual Praça da Liberdade erguia-se um monte saliente conhecido como Morro da Forca ou Morro da Pólvora. Esse nome se devia ao estabelecimento ali, em 1775, de uma forca, por ordem do vice rei Marquês do Lavradio. Ali eram executados os condenados, em geral escravos,libertos e índios. O local era estratégico, por proporcionar maior visibilidade às execuções. No mesmo morro ficava o arsenal e depósito de pólvora da cidade. Daí o nome Morro da Pólvora.
      Em 1821, essa região passou a ter um forte significado religioso, quando o cabo Francisco José Chagas, homem negro, foi condenado à execução na forca por liderar um motim pelos pagamentos em atraso. Durante sua execução a corda teria se partido três vezes,o que obrigou o carrasco a executá-lo diretamente. A população encarou esse acontecimento como uma intervenção divina, e Chagas tornou-se um mártir na devoção popular. Em sua honra, ergueram uma cruz e uma mesa de oferendas no Morro da Forca, no terreno onde hoje está a Capela de Santa Cruz dos Enforcados.

      A capela atraía grande número de devotos que cultuavam a figura de Chagas, que se popularizou como Chaguinhas. A oeste do Morro da Forca localizava- se o Cemitério dos Aflitos, primeiro cemitério público da cidade, fundado em 1779 e destinado ao sepultamento de pobres, escravos, indigentes e condenados à morte, que não podiam ser sepultados nas igrejas. As sepulturas eram simples e muitas vezes marcadas apenas por cruzes. No centro do cemitério, erguia-se a Capela dos Aflitos, existente até hoje.
      A forca foi desativada no início do século XIX, e o Cemitério dos Aflitos em 1858, quando foi inaugurado o Cemitério da Consolação. O antigo Morro da Forca foi nivelado e seu terreno loteado para a venda. Em 1851, o local foi batizado de Praça da Liberdade. Era uma homenagem da Câmara Municipal à revolta popular de 1831, que resultou na destituição e retorno de Pedro I a ortugal. Nesse contexto, o movimento liderado por Chaguinhas foi ressignificado, relacionando-se à resistência ao domínio português. Em 1891, foi construída uma capela no local da cruz. Ela passou por diversas modificações até se tornar a Igreja de Santa Cruz dos Enforcados. As últimas alterações no edifício foram feitas em 1997. Até os dias de hoje, observam-se no local práticas das religiões afro-brasileiras e do cristianismo.

Acesse o Roteiro aqui

                           Você poderá fazer a visita sozinho. Basta imprimir o roteiro ou acessar mapa nos links a baixo. 

QUEM SOMOS

Equipe de Pesquisa

 

Alex Vitor

Deborah de Oliveira

Gabriela de Souza

Ingrid Silva

Iris Vitorino

João Vitor

Henrique Faria

Robson Cardoso

 

Equipe de Redação 

 

Adriando Freires

Alícia Vieira 

Amanda Guerra 

Tayriny Costa

Thamyres Schuchman

Victoria Rodrigues

MAPA

Equipe de Produção

 

Amanda Mitie

Bruno de França Correia

Debora Martins

Julia Klein

Letícia Faustino

Luiz Felipe Pereira

Marcelo Augusto

Tadeu Sparvieri

Equipe de Condução 

 

Camila Montefusco

Danilo de Almeida

Fábio Melo

Mariana Duzzi

Matheus dos Santos

Maria Edilma

Supervisão 

 

Jaime Rodrigues

 

 

 

 

 

Monitoria de Laboratório de Ensino e Pesquisa III (2017)

Carlos Thainel Moura

Equipe de Áudio

 

Henrique Faria 

Joana Oliveira

Maria Clara Fonseca Russo 

Marina Fernandes Sardeiro

Equipe de Locução

Henrique Faria 

Maria Clara Fonseca Russo 

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MAPA
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